Hoje vou dar uma pausa na série de posts sobre a viagem pela Suíça e sul da França pra comentar algumas curiosidades sobre a Espanha (ou, em alguns casos, Valladolid, já que obviamente muita coisa muda de uma região a outra de cada país). É claro que nada do que eu vou dizer pode ser generalizado; é tudo apenas fruto das minhas observações morando por aqui, ou de conversas com espanhóis e com outros estrangeiros vivendo pelas bandas de cá. Mas depois que eu comentei nesse post sobre algumas das particularidades que me chamam a atenção aqui (as lojas de chineses salvadoras que vendem tudo e mais um pouco, as criancinhas andando com roupas iguais, os 1897 bares por km²…) fiquei pensando em outras coisinhas que queria dividir :)
1. Filmes dublados
Começo logo pelo ponto que me faz sofrer. Não acredito que seja exclusividade dos espanhóis (em Lyon não era muito fácil encontrar uma sessão legendada), mas esse hábito de só ver filmes dublados – inclusive no cinema – me deixa louca. Tem um cinema quase do lado da minha casa, mas só fui lá em duas ocasiões: durante o Seminci (festival de cinema, raro momento em que todas as sessões são em “versão original”, ou seja, legendadas) e pra ver No, filme chileno. Aqui em Valla, em 99% das salas a realidade é a mesma: em todos os horários, só filme dublado. A exceção é um cinema “de arte”, que exibe poucos filmes por vez e alguns que chegaram aos cinemas há uns dois anos.
O resultado? Conheci um vallisoletano de 27 anos que nunca viu, em toda sua vida, nenhum filme americano em versão original. Não faz ideia do som da voz de Brad Pitt, Julia Roberts, Anthony Hopkins, insiraaquioutronomedeatordehollywood. Até na universidade os professores passam filmes dublados. Tive que assistir a Um, Dois, Três (comédia de Billy Wilder com diálogos super rápidos que dão toda a graça ao filme) em espanhol e, traumatizada por experiências como essa, não tive coragem de ir ao cinema pra ver os lançamentos dos últimos cinco meses :(
Tem quem diga que o costume foi reforçado na época franquista, porque assim era mais fácil censurar os filmes; tem quem defenda que os dubladores espanhóis são muuuuito bons (hmm… ok) ou que a indústria da dublagem move dinheiro demais pra mudar isso (nesse argumento eu acredito); mas acho que no fim das contas é uma questão de hábito mesmo. Juro que tento entender e respeitar, mas a restrição me parece uma pena… [atualização: em Madrid, como era de se esperar, é mais fácil encontrar filmes em versión original]
2. Palavrões
Em geral, o pessoal aqui fala muuuuito palavrão. Sei que muita gente no Brasil não ficaria atrás, mas esse é um fator que chama a atenção de muitos estrangeiros. Sem pudores, de jovens a idosos usam palabrotas como se não houvesse amanhã. Não vou traduzir porque esse é um blog de família (haha), mas joder, coño, una putada, qué coñazo, está cojonudo, estoy hasta los cojones, no jodas, de puta madre, tomar por culo… são ouvidos com tanta frequência que até passam despercebidos. O que ainda me choca um pouco é o tal do “me cago en…”. A galera caga em tudo: en la leche (sim, a palavra “leite” é usada em muitas situações estranhas), en tu madre, en tu padre, en los muertos, en Dios (uou!). É claro que em momentos mais formais as pessoas têm mais cuidado, digamos assim. Mas já ouvi de tudo, em tudo quanto é canto: na aula, na rua, na chuva, na fazenda…
3. Horários
Esse é um dos aspectos mais clássicos da cultura espanhola. Já comentei aqui que demorei um pouco pra me acostumar com a siesta, quando cheguei em Sevilha. No primeiro dia, não tínhamos consciência de que realmente (quase) tudo para das 14h às 17h e teríamos passado fome se não fosse por uma loja chinesa salvadora (são muitas, tanto em Sevilha quanto aqui, e vendem absolutamente tudo que você puder imaginar). Chegando em Valla, três anos depois, precisei passar por um período de readaptação pra me lembrar que não, não ia conseguir imprimir meu trabalho no caminho pra aula, que começava às 16h. E que o banco fecha às 13h30, abrindo de novo às 16h30. E por aí vai…
Por outro lado, não tive dificuldades pra me acostumar com outro aspecto da relação dos espanhóis com as horas: o dia começa tarde e acaba tarde. Minha orientadora quer marcar uma reunião e pergunta se eu posso “na primeira hora”. E que hora é essa? Oito? Nove? Nada, 10 horas da manhã. E quando eu dizia que ia almoçar às 12h e todo mundo me olhava estranho? A hora da “comida” aqui é das 14h em diante. E é claro que o jantar também acaba sendo empurrado pra mais tarde… 20h é cedo ainda, rapaz!
Pra mim, que produzo muito mais à noite do que de manhã cedo, isso é uma bênção. Mas confesso que ainda estranho a forma de dividir os períodos do dia. A manhã, é claro, dura até a hora da siesta. E “vamos sair hoje à tarde?” é uma pergunta capciosa. Pra mim, esse período do dia vai até as 18h e nada mais. Aqui, 20h ainda não são noite. Daí que é superfácil ver crianças e idosos na rua ou em bares no começo da madrugada. É claro, porque a noite acabou de começar… ;)
4. Supermercados
Ahhh, esse tópico é um dos meus preferidos. Acho que todo estudante que mora na Espanha desenvolve uma relação muito especial de carinho com o supermercado que frequenta. Em Sevilha, meu coração pertencia ao Día. Agora, é do Mercadona que vou sentir falta quando deixar essas terras (e da sua musiquinha adoravelmente irritante: Mercadooona, Mercadona! ^^). Mas também vou me lembrar com ternura do Lupa, do Gadis… <3 É que a maioria dos supermercados arrasa muito na “marca branca”. São aquelas marcas próprias, que oferecem produtos mais baratos do que as marcas famosas – e, em geral, tão bons quanto. Devo a eles os quilos a mais que tou ganhando aqui, com toda certeza. Porque olha, comprar um produto com o mesmo gosto do famosão, o dobro da quantidade e a metade do preço é amor!
E você? O que mais lhe chamou a atenção na Espanha ou outro país onde morou? Discorda de algum desses pontos? Conta aí nos comentários :) E volta aqui depois, que esse post vai ter continuação…
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